ATA DA TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 30.06.1988.

 

 

Aos trinta dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Terceira Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do Prêmio de Teatro Qorpo Santo ao Casa Arines Ibias e Izabel Ibias, concedido através do Projeto de Resolução n.º 03/99 (proc. n.º 200/88). Às dezessete horas e trinta e um minutos, constatada a existência de quórum, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a MESA: Ver. Frederico Barbosa, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Prof. Joaquim José Felizardo, Secretário Municipal de Cultura, representando, neste ato, o Pref. Alceu Collares; Dr. Peter Schmidt, Diretor do Instituto Goethe; Dr. Francisco Andrade, Diretor da Associação Gaúcha de Dança, ASGADAN; Profa. Olga Reverbel, Cidadã Emérita de Porto Alegre; Profa. Izabel Ibias e Prof. Arines Ibias, Homenageados; Verª Gladis Mantelli, 1a Secretária da Casa. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Hermes Dutra, como proponente da Sessão e em nome das Bancadas do PDS, PL e PDT, disse que a homenagem hoje prestada representa o reconhecimento desta Casa pelo muito que o casal Arines e Izabel Ibias tem feito em prol da cultura e da arte, mais especificamente ao Teatro em nossa Cidade. Discorreu sobre a importância da arte dentro da sociedade humana e ressaltou a unanimidade com que o prêmio ora entregue foi aprovado por este Legislativo. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, discorreu sobre sua satisfação por participar da presente solenidade, comentando o trabalho sempre empreendido pelos homenageados na busca da valorização e do desenvolvimento do teatro gaúcho e brasileiro. O Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PT e PC do B, salientando o grande número de representantes da área artística aqui presentes, discorreu sobre a justeza do prêmio proposto pelo Ver. Hermes Dutra e aprovado pela Casa. Teceu comentários sobre o papel do teatro dentro do mundo atual, ressaltando o papel do casal Arines e Izabel Ibias para a conscientização do potencial artístico gaúcho. A Verª Gladis Mantelli, em nome da Bancada do PMDB falou sobre o teatro como reflexo da realidade humana, declarando que o Prêmio de Teatro Qorpo Santo foi criado como forma de demonstrar a valorização dessa arte pela Casa e que o casal hoje homenageado representa, através de sua obra, o trabalho e a força da classe artística de nosso Estado. Após, o Sr. Presidente convidou a Verª Gladis Mantelli a assumir a direção dos trabalhos. Em continuidade, o Ver. Frederico Barbosa, em nome da Bancada do PFL, dizendo da diversidade da obra do casal Arines e Izabel Ibias, salientou a função pedagógica de ambos na área de teatro, como professores e divulgadores dessa arte tão fundamental para o desenvolvimento completo e integrado do ser humano. A seguir, o Ver. Frederico Barbosa reassumiu os trabalhos e convidou os Vereadores Hermes Dutra e Gladis Mantelli a procederem à entrega, respectivamente, do Prêmio de Teatro Qorpo Santo e do Troféu “Frade de Pedra” ao casal Arines e Izabel Ibias, concedendo a palavra a S. Sas., que agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Em prosseguimento, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e cinqüenta e dois minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Reunião Ordinária da próxima quarta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Frederico Barbosa e Gladis Mantelli e secretariados pela Verª Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1a Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 

O SR. PRESIDENTE (Frederico Barbosa): Concedo inicialmente a palavra ao Ver. Hermes Dutra, que fala em nome do PDS, do PL e do PDT, e como autor da proposição.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas senhoras e meus senhores. Das coisas que se recebe na vida, ao longo da nossa existência, de umas se guardam saudades, de outras, não se guardam lembranças, porque não foram boas. E este acompanhar diário das coisas que são boas e das coisas que não são boas, fazem, ao longo da nossa existência, o somatório do que fomos e do que fizemos ao longo da nossa existência. Hoje é um dos momentos que se tem em primeiro lugar, hoje é dos momentos dos quais guardaremos saudade, guardaremos lembranças, gratas lembranças. Uns guardarão lembranças porque estão vendo receber, com justiça, o Prêmio que é dado para Izabel e para Arines; outros guardarão saudades, e além deste motivo pelo enorme grupo de amigos que este casal tão querido soube cativar e que hoje enche esta Casa a ponto de faltarem cadeiras. Outros certamente guardarão lembranças e ao longo do tempo vão recorda-las de que a Câmara Municipal de Porto Alegre não se esquece daqueles que fazem e ajudam a fazer a vida cultural de nossa Cidade. Nós também guardaremos lembranças deste momento, lembranças que haveremos de contar aos nossos filhos e, se Deus quiser, haveremos de contar aos nossos netos. De tantas coisas que fizemos nesta Casa, umas que agradaram a uns, desagradaram a outros. Outras tantas que desagradaram muitas vezes até a maioria. Mas vamos contar aos nossos filhos e aos nossos netos que dentre as boas coisas que fizemos e que agradaram a todos, foi proporcionar que a Casa de Porto Alegre homenageasse este casal. A homenagem que hoje prestamos ao casal Arines e Izabel, com a concessão do Prêmio de Teatro Qorpo Santo, expressa o reconhecimento da comunidade porto-alegrense pelo muito que os dois realizaram em benefício da cultura rio-grandense. O prêmio de teatro Qorpo Santo foi instituído por esta Casa conforme a Resolução nº 816, de 1984, foi destinada e leio o art. 1o da Resolução: “Para ser conferida a ator, produtor, diretor, autor ou qualquer outra personalidade que por sua contribuição ao teatro enriqueça esta atividade, especialmente havendo reflexos em Porto Alegre. Quis ler o art. 1o da Resolução, porque há que se caracterizar que a homenagem de hoje, fundamentada naturalmente na Resolução que criou o prêmio tem um significado muito particular: da ação do Arines e da Izabel para o teatro, todos nós sabemos. Mas nós como Câmara temos de ressaltar a importância deles na arte do teatro em Porto Alegre. E esta Casa não pode ser e não foi insensível a isso. Cabe, aqui, destacar, que não foram 1, 2, 3 ou 4 anos de dedicação mas, sim, 20 anos de abnegação e total doação à causa que abraçaram. Tanto é o nosso agradecimento pela participação efetiva de Arines e Izabel na educação, no teatro, na vida cultural da Cidade, que a proposição desse prêmio não é, hoje, uma idéia exclusiva deste Vereador, é uma idéia da Casa, porque recebeu aprovação unânime. Afinidade afetiva, profissional, de sonhos e de esperança, assim podemos resumir o resultado gratificante do trabalho do homem e da mulher, do ator e da atriz, do professor e da professora Arines e Izabel. Essa afinidade, para alegria e satisfação nossa, se refletiu e vai continuar a se refletir por muitos anos no agradecimento cultural da nossa gente e da nossa Cidade. Lembrar aqui que Izabel Ibias, dentro de sua multiplicidade na dedicação e causas sociais, não fica restrita apenas a uma faceta desse contexto, nunca é demais, até mesmo porque os bons exemplos devem, além de ser admirados, ter seguidores, e para que isso aconteça, devem ser ressaltados. Criticar, mostrar caminhos e colaborar para as mudanças que se fazem necessárias, através das artes, do bem representar, é um dom que nem todos nós, infelizmente, possuímos. Porém, ir mais além, extrapolar, fazendo da arte um instrumento de valorização da vida e da experiência, é mais do que um dom: é uma inspiração divina. E dessa inspiração é que surgiu o trabalho magnífico de Izabel com um segmento de nossa sociedade, geralmente esquecido e, na maioria das vezes, relegado a um segundo plano: os idosos. Pois é com essa faixa que a nossa homenageada demostra a força de seu caráter, desenvolvendo um trabalho de apoio com a criação do Grupo Sem Teias que reúne pessoas de 60 a 86 anos e que, graças a Isabel, preenchem com o teatro um espaço que normalmente nesta faixa etária é esquecido. Saber reconhecer o valor e apoiar quem muito contribuiu para o crescimento de nossa sociedade é uma qualidade que fala por si só, mas, mais ainda, é necessário falar; o compromisso do artista está condicionado às necessidades da mudança social – esta frase de Arines Ibias também demonstra a linha de conduta do nosso outro homenageado, eu até, meio que desabusado, me permitiria dizer, a nossa outra metade homenageada – pois este compromisso vem sendo muito bem desempenhado pelo casal Ibias, é através do trabalho diário que eles aplicam com maestria a sua filosofia de vida, uma filosofia voltada para o bem-estar social, para as mudanças que são necessárias, visando a melhoria de vida cultural e espiritual do ser humano: Em cada atuação, tanto do nosso prezado Arines, como na sua companheira de ideal e de luta, Isabel, encontramos um recado que brota de um alto grau de sensibilidade, que vem de cada um para ser partilhado por todos. Isto é doação! E pela contribuição de duas pessoas muito especiais, que são: Arines e Isabel, aqui estamos todos, este Vereador, os demais membros da Casa e todos vocês, com muito orgulho, prestando-lhes os nossos agradecimentos, como integrantes que somos da sociedade que muito tem recebido e que, temos certeza, vai continuar recebendo por muito tempo este casal que hoje distinguimos com o Prêmio de Teatro Qorpo Santo; uma coisa é fazer arte, outra bem diferente é viver a arte e é nesta segunda opção que encontramos Arines e Isabel, vivendo a arte e com isto contribuindo expressivamente para a vida artístico-cultural da nossa terra. Contribuição que leva o traçado de novos e melhores rumos, mais vigorosos e compensadores para todos nós. Lutando no teatro, nas escolas, nas universidades nossos homenageados mostram um caminho de dignidade e gratificação a quem dele partilha, mesmo enfrentando os obstáculos que todos sabemos não são poucos na vida do artista. Ao contrário: um artista no Brasil e até eu diria mais ainda em Porto Alegre precisa ser um misto de guerreiro destemido, ter um pouco de mágico, a paciência de Jó e até mesmo a perseverança dos humildes. Ser artista nesta terra é possuir a garra dos que sabem o que querem, não importando as pedras que encontrem no caminho, ao contrário, sabendo usa-las para pavimentar a estrada que percorrem. Será necessário lembrar aqui as imensas dificuldades de todos os artistas, pessoas dotadas de uma sensibilidade maior que a nossa enfrentam para continuar dia após dia para poder levar aos quatro cantos as suas mensagens que não são nada mais nada menos que a própria mensagem da história da humanidade, acho que não preciso lembrar porque estou no meio de pessoas que conhecem melhor do que eu esse caminho áspero e espinhoso que é a trajetória de um artista na nossa Capital e no nosso Estado.

No Brasil, para viver arte, é necessário uma abnegação fora do comum. Essa abnegação encontramos de Izabel e Arines Ibias. O Teatro nada mais é do que captar as alterações da história, dos rumos sociais, questioná-los e contribuir de forma decisiva para as mudanças. Teatro é, em síntese, captar os prenúncios de mudanças. Teatro que em nosso País ainda não ocupa o lugar de destaque que merece, ao contrário do que acontece com os povos que hoje apresentam uma cultura expressiva, graças aos artistas e ao seu meio de comunicação: o Teatro, uma das formas mais ricas de se registrar acontecimentos e suas conseqüências para os povos; a ele devemos, não raras vezes, o anúncio de alterações na história da humanidade. Todos os movimentos de vanguarda, do expressionismo ao surrealismo, nada mais fizeram do que prenunciar modificações na sociedade. A esses movimentos de vanguarda correspondia um tipo de teatro. O teatro da época da Semana de Arte Moderna de 22 é um exemplo e também refletia preocupações políticas e culturais do período. O teatro “Opinião e Arena”, do período imediato a 1964, com as peças Opinião ou Roda Viva, de Chico Buarque, apontavam para alguns dos problemas que o País passaria a viver.

Berthold Brecht, em suas peças, mostrou com antecipação as mudanças que se registrariam na Alemanha de seu tempo.

Jean Paul Sartre é outro exemplo, abordando temas existenciais, como na peça “O Diabo e o Bom Deus”, quando colocou em discussão os temas contemporâneos da existência do homem. Sheakspeare, com “Macbeth”, fala da sociedade da época, demonstrando os conflitos e as influências das classes sociais nas mudanças.

Isto é o Teatro. Assim caminha a história dos abnegados com uma visão especial dos fatos e suas conseqüências. Quando falamos em teatro, falamos de um arquivo histórico de imensurável valor. Arquivo montado peça por peça, por pessoas dedicadas, como são Arines Ibias e Izabel Ibias.

Aliás, se fosse dentro daquele critério de racionalidade que imaginamos, ter de trabalhar, sobreviver de seu trabalho, com o fruto de seu trabalho conseguir ter o mínimo à sobrevivência, seu sustento e de sua família e atendendo as necessidades de seu lazer, de educação, na verdade, nem existiriam. Porque, aqui, se faz por amor, porque aqui se faz por amor e as exceções – e existem – temos de reconhece-las, são exceções. A regra é outra. Mas haverá um dia em que Porto Alegre dirá “não vou assistir a novela, hoje, vou assistir uma peça de teatro”. Sei que isto vai demorar um pouco, mas vai acontecer, se Deus quiser.

São os artistas os possuidores de especial sensibilidade para saber como levar esta mensagem que é o teatro. Aos dois nós poderíamos dizer, lembrando aquela história de mensagem a Garcia, são os dois mensageiros. De Arines e Izabel podemos esperar a entrega da mensagem na hora exata, à pessoa exata, sem que nem ao menos lhes entreguemos o nome e o endereço do destinatário. Nas mãos de Arines e Izabel a mensagem se decodifica, como por um passe de mágica. Mas, este passe de mágica se define, porque ela é passada com amor, dedicação, emoção, e sobretudo com vida.

Acredito não ser preciso dizer mais, para demonstrar a importância e a justeza da homenagem que hoje prestamos ao entregar o Prêmio de Teatro Qorpo Santo, merecidamente, repito, a este casal. A atuação desses dois expressivos valores da vida das artes e da cultura de Porto Alegre, junto aos jovens, adultos, idosos, demostram abnegação, desprendimento, qualidades que hoje, mesmo com singeleza, quis destacar. Isso porque, para qualidades deste tipo acredito que não exista ainda, prêmio capaz de expressar o verdadeiro valor de pessoas como as que temos conosco, hoje, nessa solenidade que hoje modestamente, estamos a homenagear.

Quero que você, Izabel, você Arines, recebam este prêmio com a simplicidade que é peculiar em cada um de vocês. E que ao longe, no tempo, quando os invernos passarem, quem sabe não seja tão frio quanto é hoje para alguns, e que vocês, na transmissão desta mensagem que o Teatro leva, já não seja daqui a anos ser necessária ser levada, porque o País mudou, se lembrem deste dia, um dia simples, uma tarde de inverno quente, e que, talvez, esta tenha sido a marca especial do dia. Se lembrem que os amigos de vocês lotaram esta Casa. Os Vereadores vieram à tribuna para dizerem o que vocês são e o quanto vocês merecem. E não esqueçam que vocês conquistaram este prêmio, porque sempre trabalharam com amor com dedicação e, sobretudo, com vida.

Arines e Izabel, como representante da sociedade de Porto Alegre, como um peça dos 33 desta Casa, a mim me cabe agradecer, não a vocês, porque o trabalho que vocês fazem a Cidade deve retribuir, e este momento é um pedacinho muito pequeno da retribuição que temos que dar. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedo, a seguir, a palavra ao Ver. Lauro Hagemann, que falará pela Bancada do PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, demais componentes da Mesa, meus caríssimos companheiros, casal Arines e Izabel Ibias; Srs. Vereadores, senhoras e senhores, perdoem-me ter referido ao caríssimo casal como companheiros. É que, em tempos mais recuados, eu cometi a heresia de pisar num palco e, portanto, me sinto à vontade para chamá-los de companheiros, especialmente a Izabel que, além de atriz, é comunicadora como eu. Quando esta Casa se engalana, como nesta tarde, para prestar uma justíssima homenagem a este casal por sua atividade no setor do teatro, da comunicação, a Cidade toda não faz nada mais do que homenagear alguém que lhe prestou inestimáveis serviços. Um serviço que se traduz numa presença de duas décadas nos nosso palcos, nas nossas escolas; uma presença repleta de vida e atividade, especialmente num momento, que atravessa nossa sociedade, de carência de elementos humanos, sobretudo artísticos, no campo nacional em que vivemos, permanentemente, sob o impacto da aldeia global, o trabalho de Arines e de Izabel reflete uma perseverança, que eu diria quase uma teimosia, em continuar trilhando este caminho, tão difícil no Brasil de hoje, mas tão necessário, especialmente na atividade teatral, porque o teatro é, essencialmente, revolucionário. E o caráter revolucionário do casal Ibias se reflete, também, num outro setor, que me é muito grato neste ocasião. Tive a oportunidade de acompanha-los, há pouco tempo, na construção do Sindicato dos Atores. Como velho sindicalista, me sinto muito à vontade para também, sob este aspecto, cumprimentar o casal e dizer que se amplia o leque de atividades de Arines e Izabel. Esperando todos nós que esta atividade seja seguida por muitos anos de profícua convivência com a sociedade porto-alegrense, porque o passado de ambos é a garantia de que o futuro com eles, para nós, será risonho; almejando que, como detentores do prêmio Qorpo Santo, instituído por esta Casa, possamos homenageá-los com a justeza que eles merecem, a fim de que todos nós nos sintamos mais dignos da Cidade em que vivemos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará pelas Bancadas do PT e do PC do B.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Prezado Professor Joaquim José Felizardo, sempre bem-vindo, Secretário Municipal de Cultura, representando, neste ato, o Sr. Prefeito Municipal; Dr. Peter Schmidt, Diretor do Instituto Goethe, palco tão importante para as artes de Porto Alegre e um local de resistência durante os anos mais difíceis e ainda recentes; Dr. Francisco Andrade, Diretor da Associação Gaúcha de Dança, ASGADAN; Queridíssima Olga Reverbel, Cidadã Emérita desta Cidade, ex-Professora, não, continua professora, sempre. A Olga não vai deixar de ser professora nunca. Minha prezada companheira Verª Gládis Mantelli, 1a Secretária da Casa; meus queridos Isabel e Arines. O fato de se rever, aqui, companheiros da área das artes cênicas e, pelo menos um, que eu não encontrava há mais de uma década e que menciono, para considerar mencionados todos os outros que aqui estão, que é o José Ronaldo Falero, que veio lá de Blumenau para esta festa, diz bem, exatamente, do acerto da proposição do Ver. Hermes Dutra e do acerto desta Casa em ter aceito esta proposição. Pessoalmente, a mim, que tenho aplaudido tantas vezes a Isabel, na cena, e tenho acompanhado de perto e aplaudido ao Arines, atrás da cena, como diretor, hoje tenho o prazer de poder, mais uma vez, aplaudi-los, agora, numa posição um pouco diferente, na representação, nesta Casa, do PT, e, por delegação, da Verª Jussara Cony, do PC do B. Quando olhamos a história desse prêmio Qorpo Santo, um prêmio que tive a alegria de poder propor a esta Casa, já que a Câmara tinha apenas, até então, o Prêmio Érico Veríssimo, nós resolvemos abrir premiações específicas para todas as áreas, olhamos hoje os que foram até aqui agraciados, o nosso sempre professor Aldo Obino, que exerceu a crítica durante 30 anos, no Correio do Povo, o dramaturgo Hugo Bender, o ator Luiz Carlos Magalhães, que se encontra aqui, entre nós, a Profa. Olga Reverbel, e agora, a síntese de tudo: o casal Isabel e Arines. Acho que se pensássemos em dar o prêmio para um, ou para outro, realmente iríamos quebrar essa imagem que tem sido a constante: a Isabel é o Arines, quando a gente enxerga um, fica procurando pelo outro, e quando a gente vê os dois, fica perguntando pelos filhos, que agora estão vindo para a área do teatro. E esse foi o aspecto muito bem apanhado pelo Ver. Hermes Dutra, não se tratava de homenagear a atriz, ou ao diretor, mas sim homenagear uma família que se dedica ao teatro, e isso me parece muito importante. Eu assistia, Isabel, um dia desses, a tua entrevista, sobre o “Memory Motel”, uma belíssima entrevista, com a Tânia Carvalho, e admirava, a clareza com que tu colocavas o papel da atriz, o desafio desse trabalho, um desafio que muitas vezes se encontra até em preconceitos que perduram em relação a certos momentos que tu enfrentas na cena. Mas, queria destacar, sobretudo, a importância desse trabalho, como num mundo que é tão egoísta, em que a gente se centra tanto dentro da gente mesmo, o trabalho de ator, de interpretação faz com que a gente, ao contrário, se doe, se abra e seja apenas, e literalmente, um intérprete, um intermediário, alguém que realmente se sente como um condutor, como um espaço de passagem entre o que alguém criou, o autor e aquilo que o público estará recebendo. Isto vale para a Atriz, para o Ator, para o diretor. E é interessante que este símbolo, base para o teatro, a máscara, desde o teatro grego, é um símbolo tão lindo das várias figuras, das várias personalidades, dos vários humores, foi transformado no mundo contemporâneo num símbolo tão negativo, a máscara do fingimento, a máscara da falsidade, a máscara da mentira. Felizmente, a Izabel e o Arines que usam a máscara do seu trabalho, não ficaram com esta máscara grudada na sua cara e continuaram, ao longo destes anos sendo aquelas mesmas pessoas que nós, não é, Luiz Artur, que somos de uma certa geração começamos mais ou menos juntos, não é? Eu no Curso de Letras, vocês na área de teatro, fomo-nos cruzando de vez em quando, nos conhecemos lá, há muito tempo atrás. Eu não gostaria de citar peças de um ou de outro, todos nós as conhecemos. Mas eu gostaria de contar à Izabel um episódio que para mim foi muito importante, até por obrigação de ofício, além de gosto, de tantos espetáculos que vi com a Izabel, Fim de Partida. E realmente foi uma imagem que me ficou, sempre, ao longo destes anos. A Izabel jogada dentro daquela lata de lixo, lá no palco, fazendo um personagem difícil que são pedaços apenas da figura que vai aparecendo. O personagem fala tão pouco, tudo depende fundamentalmente da expressão. Quando assisti a esta peça, muitos anos depois, através da direção de José Luiz Barroco, em Paris, comparando, relembrando, eu poderia dizer: mas olha, nós, lá em Porto Alegre,  tivemos um belo espetáculo, e realmente a Izabel não ficava devendo nada à força e ao trabalho que eu via, de repente, no espetáculo. (Palmas.) É um depoimento que eu quero trazer com toda a sinceridade, porque, muitas vezes, em teatro, e quem faz teatro sabe disto, se discute o que é mais difícil fazer, se comédia, se drama. Agora, ninguém vai discutir, realmente, quando o autor, o intérprete, está apenas um pedaço de si aparecendo, realmente este é um desafio, transmitir isto, de passar isto para o público e acho que este foi o grande desafio, não sei se a Izabel, na análise de seu papel concordaria comigo, mas sem dúvida nenhuma, Izabel, quando eu penso na Izabel atriz, sem anular os outros papéis, minha lembrança sempre vai para aquele belíssimo espetáculo.

Do Arines, e isto não exclui a Isabel, eu gostaria de destacar, sobretudo, a pessoa que, ao escolher o teatro, escolheu também uma batalha, porque o Arines é destes caras que não se satisfazem sendo diretores de teatro, está na produção e cuidando de cada detalhe. Ele comprou a briga do teatro em todos os níveis. O mais novo é este centro que eles criaram, mas teve tantos outros e o Lauro Hagemann destacava que para nós, até por nossa militância político-partidária é extremamente importante, que é o sindicato. O Arines, o primeiro presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Artes Cênicas. (Palmas.) E eu tive muita honra de poder participar naquela noite na posse do Arines, por procuração porque exatamente nessa luta, nessa responsabilidade, o Arines teve de abrir mão, talvez num momento muito especial para ele, que era o momento de se tornar o presidente do Sindicato, pois ele estava lá em Brasília representando todas Artes Cênicas do Rio Grande do Sul na concretização de um sonho nosso, tão antigo, que era a instituição formal da fundação nacional de artes cênicas. Lembro que foi muito importante porque ratificava essa união dos dois, o Arines e a Izabel. O fato de a Izabel poder ler o bilhete que o Arines havia transmitido antes para ela, através do telefone. Sem da cair no lugar comum, talvez tenha sido uma das ausências mais presentes que pudemos assistir ao longo destes anos.

Por fim, queria registrar, sobretudo, um aspecto que me parece importante na maneira pela qual Izabel e Arines se relacionam. Em entrevista de hoje no Diário do Sul, eles creditam tudo que tenham feito, eventualmente, e estendem isso e generalizam à geração a qual pertencem e à qual pertenço eu também. Isto é muito importante, Izabel e Arines. Vindo agora do Festival de Gramado a gente comentava que começamos a ter hoje o depoimento dos que nasceram depois ou durante a Ditadura, mas nossa geração enfrentou e sofreu isso; viveu no momento mais difícil nosso, que era o início de nossa vida profissional. Todos nós desta geração entre os 30-40 anos. Neste sentido é importante nos identificarmos com todos esses que lutaram, que resistiram, que sobretudo, construíram o teatro gaúcho. Pois é a partir desta geração, com clareza, que nós paramos de abandonar Porto Alegre e irmos para o centro do País. Foi a partir de gente como Arines e Isabel que houve uma decisão clara – não critico quem tenha saído, evidentemente – mas houve uma consciência em muitos de nós de fincarmos o pé em Porto Alegre e aquilo talvez que era até a exceção ficar foi se tornando gradualmente uma regra, um momento de identificação e isso se deve também a vocês e isso é extremamente importante. E, para isso me parece que contou muito – fofocas teatrais a parte que são ótimas – a amizade que se conseguiu forjar ao longo desse tempo. Podemos discordar de vez em quando, podemos brigar de vez em quando, isso faz parte do jogo, mas, me parece e é fundamental que isso marca o Rio Grande do Sul, não só no teatro, exatamente a decisão pelo nosso chão e a decisão apesar das diferenças mantermos uma unidade nesta nossa luta e isso também é simbolizado, é representado na Izabel e no Arines.

Por isso meus prezados companheiros acho que essa tarde é muito importante para nós, é uma tarde em que nós repetimos de uma certa maneira, implicitamente na homenagem aquelas promessas que estavam vinte ou vinte e cinco anos atrás na cabeça de nós quando iniciávamos esse caminho, ao lado de alguns veteranos, o Luiz Carlos Magalhães, a Maria de Lurdes, aliás, foi um dos primeiros espetáculos de teatro que eu vi na minha vida com a Maria de Lurdes, o “Édipo Rei”, acho que esse momento é muito importante para nós reafirmarmos isso. Nós temos hoje uma classe teatral no Rio Grande do Sul, nós temos hoje um grupo de pessoas que briga pelo teatro no Rio Grande do Sul e que faz, cada vez mais, um belo teatro neste Estado. E veremos isso, com toda a certeza, mais uma vez, agora no 3º Encontro Renner de Teatro, quando poderemos inclusive discutir aquilo que se faz lá no centro do País e aproximar o que se está fazendo aqui. Mas, se pessoas como Arines e Izabel não tivessem fincado o pé aqui, quem sabe lá nós estaríamos reiniciando esse ciclo a cada cinco anos, a cada dez anos e assim por diante. Hoje, esta Casa, pode se dar ao luxo de homenagear uma nova geração que é uma geração que ainda, felizmente, continua trabalhando e esperamos que vá trabalhar durante muito tempo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, a Verª Gladis Mantelli, que falará em nome do PMDB nesta Casa.

 

A SRA. GLADIS MANTELLI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores, viver muitas vidas significa ter grandes alegrias, muitas dores, vários sofrimentos, incontáveis prazeres, uma enormidade de medos, um sorriso infinito e lágrimas abundantes. Mas, antes de tudo, é uma forma de entender melhor o ser humano e seus atos, na medida em que se vive a experiência de muitos tipos de pessoas, vivenciando seus problemas, suas angústias, enfim seu universo. Isto é ser um ator. Elevar o ator a isto é ser diretor.

É ter a capacidade de absorver a identidade de alguém e transmitir ao público esta experiência, onde se pode ir da dor massacrante à gargalhada incontrolável, da sã consciência à loucura desenfreada, da riqueza incalculável à miséria absoluta, da condição de opressor ao estado de oprimido.

O teatro, antes da arte, é a forma transparente, é o espelho em que as pessoas observam as atitudes da humanidade e seus próprios atos. É onde vêem o amor e o ódio, as duas grandes batutas na orquestra da vida, agindo e conduzindo a história. É a expressão da verdade. É a história encenada, no ontem, no hoje e no que achamos ou gostaríamos que fosse o amanhã.

Consciente da importância desta arte, de ser não um elemento imprescindível para a cultura, mas de ser ela própria em uma de suas faces, e de ser a cultura fator mister para que tenhamos um mundo mais justo, fraterno, livre e conseqüentemente mais feliz, esta Casa criou e confere o Prêmio Teatro Qorpo Santo a todos aqueles que trabalham e encantam através do teatro a vida cultural da nossa cidade.

É com satisfação que nesta oportunidade conferimos o prêmio ao casal Arines e Isabel Ibias.

O casal, sem dúvida alguma, merece a homenagem pelo seu trabalho, seriedade, respeito ao semelhante e busca incessante do novo, de conhecimentos, de novas experiências, enfim, de conhecer melhor a pessoa humana e o mundo.

Eu me permito dizer que Arines e Izabel valorizam o nosso prêmio, o tornam especial. E, ao prestarmos este reconhecimento ao casal, temos a firme convicção de que ela se irradia à toda comunidade artística da nossa Cidade e Estado, pois o casal Ibias é fiel representante do nosso meio cultural, por ser expoente deste.

Respeitados pelo trabalho, admirados pela dedicação, copiados na beleza de suas atividades, encantadores como mestres, educadores, mas, acima de tudo, amados por quem os conhece. Amados pela sinceridade, pela probidade e pelo carinho que lhes são característicos.

O currículo invejoso que possuem, tanto Izabel, quanto Arines, mostra a enorme preocupação que possuem em estarem totalmente integrados em uma sociedade onde as transformações vencem o tempo na sua intensidade.

Artistas que possuem preocupação com a criança, o adolescente, o adulto e o idoso, que valorizam desde a inocência da criança à experiência do velho, souberam pegar de cada fase da vida humana o que há de melhor. E, com as várias gerações discutem, conversam, trocam experiências e trabalham juntos no firme propósito de fazerem com que nossa gente viva um pouco mais feliz.

O segredo de nosso povo ser maior do que todas as crises, de fazer de cada tombo um alento para o passo seguinte, de fazer da dor a coragem para o novo dia e de ter fé, uma fé desesperada, quase enlouquecida, é que no meio da nossa gente há muitos Arines e Isabel que são o âmago da nossa energia.

Eu me permito aqui, fazer um parêntese no meu discurso formal e falar, então, aos meus amigos. Conheço Izabel e Arines há dezessete anos. Talvez possamos dizer que em termos de amizade, aquele sentimento mais sólido, eu o tenha, quem sabe, pelo Arines mas, por outro lado, com Izabel eu tenho identidade, que são dois sentimentos muito fortes. Tantas lutas empreendi com Arines, nós ambos na qualidade não de ator-atriz, ou diretor – porque, como disse o Lauro Hagemann, eu também já cometi a insanidade de pisar em palcos e pretendo, novamente, pisar, tendo, como meu diretor, Arines Ibias, apenas não sei quando, o Arines diz que no ano que vem – mas na qualidade de professores, muitos trabalhos realizamos juntos como professores, em vários locais de trabalho. Vejo, inclusive, aqui, vários companheiros, vejo gente do CES, trabalho desenvolvido pelo Arines também, e essa amizade que me liga ao Arines vem, muito, dessa esfera profissional que nós tivemos a oportunidade de respeitar e de conviver juntos. E o trabalho do Arines, nessa esfera, tinha a mesma dignidade, o mesmo calor, o mesmo amor com que ele faz, pela razão que hoje nós o homenageamos, que é ser um diretor de teatro. Quando eu digo que tenho identidade com Izabel, eu digo que Izabel é dessas raras mulheres que consegue ter luz própria, vida própria, consegue, num universo, onde é extremamente difícil, que as mulheres não sejam um apêndice. Ela, apesar de estar ligada ao Arines – como tão bem disse o Antônio, quando se vê um, se procura o outro – ela consegue ter essa identidade, ela não é um mero apêndice do Arines. Isto é um elogio, viu, Arines, não é uma crítica? Eu acho que as mulheres precisam e devem ter a Izabel como um dos exemplos dessas raras mulheres que conseguem fixar os seus rumos, fixar as suas rotas e, a partir disso, atingir os seus objetivos. Isso faz de Izabel o que ela é hoje: a mulher inteira, a mulher que consegue fazer o seu trabalho, as coisas que se propões e continua sendo essencialmente mulher. Não nega a sua condição de mulher! (Palmas.)

Esta era a minha parte especial aos meus amigos. Agora, por uma vida dedicada à arte e por terem, ao longo desta, seguido o caminho reto, talvez muito difícil e provavelmente o foi, mas consoante com a verdade e com os ideais de vocês, a Câmara Municipal de Porto Alegre, através da feliz proposta do Ver. Hermes Dutra, entrega este Prêmio como reconhecimento ao trabalho do casal e como incentivo a todos os outros tantos artistas da nossa Cidade para que sigam adiante em seus propósitos e não desistam no primeiro obstáculo que lhes surgir.

A Arines Ibias, natural desta Cidade e a Izabel Ibias, adotada com tanto carinho, prestamos nossa homenagem, em nome do PMDB e em meu nome particular, agradecendo por seu trabalho em prol da cultura de Porto Alegre e convocando-os a continuarem sempre. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido a Verª Gladis Mantelli a assumir a presidência dos trabalhos.

 

(A Sra. Gladis Mantelli assume a presidência dos trabalhos.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Concedemos a palavra, neste momento, ao Ver. Frederico Barbosa, que fala em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Sra. Presidente, Srs. Vereadores, meus caros amigos Izabel e Arines Ibias, nossos homenageados na noite de hoje.

Certamente os dois sabem que, pela presença, como companheiros de trabalho por algum tempo, tenho um problema enorme que é o de marcadamente estragar algumas solenidades quando deixo que a razão me fuja e falo com a emoção e isto Izabel e Arines que me acompanharam por algum tempo e eu os acompanhei por algum tempo, sabem muito bem que por isto rascunhei algumas linhas, para que a Sessão de hoje transitasse, sem que, apesar da emoção e da inspiração que todos estamos sentindo neste Plenário, pudesse eu concluir o trabalho, no exercício protocolar da Presidência e da representação que meu Partido me concedeu. (Lê.)

“Ao elaborar o texto desta saudação, examinando a diversidade rica e plural dos currículos do casal homenageado, verificando a impossibilidade de destacar todos os aspectos da sua múltipla atividade, busquei um elemento síntese que unificasse o múltiplo, estabelecendo a junção dos contrários.

“Arines, deixei de lado o Ator, o Diretor, o Produtor e o Administrador Cultural. Em relação à Izabel, esqueci a Atriz, a Entrevistadora, a Artista Plástica, a Mulher de Televisão. Em relação a ambos, talvez pela minha condição de ex-Secretário Municipal de Educação e Cultura, talvez pelo fato de ter tido a audácia de transferir Arines da Direção de uma Escola para a Direção de um Teatro e a pertinácia de manter Izabel como Educadora da Terceira Idade, me fixei na ação pedagógica de ambos no teatro e pelo teatro, visualizando o Coordenador da Oficina Teatral Carlos Carvalho, a animadora de teatro para os idosos, os professores de arte dramática, de expressão corporal, de desinibição e sensibilização.

“Para o insigne pensador gaúcho, Gerd Bornheim, “a missão do teatro é proporcionar, a seu modo, uma penetração radical na realidade humana”. Caberia dizer realidade humana não plenamente desenvolvida, em cuja essência finita estribam a capacidade, a necessidade e o anelo de complementação, num permanente fluir em busca da perfeição, numa evolução rumo ao homem total, autônomo, independente e integrado, na medida de suas possibilidades individuais.

“Izabel e Arines têm objetivado esta missão através do seu fazer teatral, transformando em fazer pedagógico.

“Poderíamos perguntar: Qorpo Santo, em sua vida e atividade, foi mais educador como professor ou como dramaturgo? Pois eu ousaria dizer que mais educou pelo teatro. A obra de Qorpo Santo renasceu não apenas como uma curiosidade, uma peça de museu. Mostrou-se capaz de ser depositária de um desejo secreto essencial da cultura brasileira, contexto em que nasceu e renasceu ... fez-se também depositária das esperanças, ilusões e perplexidades de uma geração de jovens que via desaparecer o futuro debaixo dos pés... os textos de Qorpo Santo foram capazes de ganhar a sua razão, de impor a sua versão da linguagem humana, como uma forma digna da coletividade em que nasceram”, no dizer de Flávio Aguiar, o que permitiu a Carlos Drummond de Andrade, em plena crise parisiense de maio de 1968, exclamar:

“Qorpo Santo é quem tinha razão

naquele maio

....

naquele maio

as manhãs eram lindíssimas, as tardes

pingavam chuva fina

o mar entristecia

a luz era cortada de repente

como prefixo de morte

 e mesmo assim na treva uma ave tonta

riscava o céu naquele maio”

(publicado no Correio da Manhã do Rio de Janeiro, de 26.5.68)

“Amigos Izabel e Arines Ibias. Em meu nome pessoal e da bancada que represento, o PFL, cumprimento ao distinto casal pelo trabalho até aqui desenvolvido e desejo ainda uma longa caminhada. É bom caminhar, ... não parar, não se acomodar, avançar, progredir... ganhar companheiros de caminhada... caminhar sem perder o rumo e sabendo que a meta final é a plenitude da beleza, sonho, anseio e desejo de toda a arte.”

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Devolvemos a Presidência dos trabalhos ao Ver. Frederico Barbosa.

 

O SR. PRESIDENTE (Frederico Barbosa): Solicito ao autor da proposição, Ver. Hermes Dutra, que faça a entrega do Prêmio de Teatro Corpo Santo a Arines e Izabel Ibias. Convido a todos para, de pé, assistirmos a entrega.

 

(O Ver. Hermes Dutra faz a entrega do prêmio de Teatro Qorpo Santo ao casal.)

 

O SR. PRESIDENTE: O troféu “Frade de Pedra”, que traduz o apreço da população porto-alegrense a todas pessoas que de alguma forma prestam serviço à comunidade, é a representação que a Câmara fez através da instituição de um troféu, chamado “Troféu Frade de Pedra”. O Frade de Pedra, historicamente, traduz a hospitalidade rio-grandense, uma vez que representa o símbolo da fraternidade e boas vindas.

Convido a Verª Gladis Mantelli para proceder a entrega do Troféu Frade de Pedra aos nossos homenageados.

 

(É procedida a entrega do troféu.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao casal Arines e Izabel Ibias.

 

O SR. ARINES IBIAS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, personalidades presentes, componentes da Mesa, gostaria de citar os nomes das pessoas que estão aqui presentes, mas, realmente, são tantas, que seria muito difícil.

Todo e qualquer reconhecimento público para um artista é sempre um momento de muita alegria e de muita emoção. É com este espírito de alegria e emoção que hoje me encontro aqui.

Eu estou um pouco atônito. Já me perguntei: por que eu? E com esta pergunta eu tenho convivido e ela repercutiu em mim como um eco muito forte e passei a investigar a resposta. Esta resposta eu não encontrei na minha pessoa, mas na minha função, na nossa função, na função dos demais presentes. Eu me refiro àqueles que fazem Teatro. Eu encontrei esta resposta não só na nossa função mas, também, olhando para o tempo em que vivemos e as dificuldades encontrados para ajudá-lo a existir mais honesto, mais humano e mais consciente. Esta resposta eu encontrei nos meus amigos, nos meus mestres, nos meus familiares. Eu nada mais sou, nesta tarde, do que um representante tirado daqueles que tanto insistem em andar de pé nesta “Carroça”. Com licença do “Viva a Gorda”. Por isso, com a licença do Ver. Hermes Dutra e dos demais Vereadores, eu dedico este prêmio ao meu filho Luciano, a minha filha Esmália, ao meu pai, Arines. Já repartiram com a Isabel, por isso eu não posso dedicar o prêmio a ela, mas quero agradecer por ela ter me ajudado a chegar até aqui. E quero repartir esta honraria com todos os artistas de Porto Alegre que me ajudaram nesta caminhada e espero que ainda continuemos nos ajudando muito, uns aos outros. Estas pessoas sabem quem são elas. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. IZABEL IBIAS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, meus amigos de coração, que estão todos aqui, eu nem esperava tanta gente. Muito obrigada a todos vocês por estarem aqui. Olhar nos olhos de vocês é uma coisa das mais significativas. Se este prêmio foi inesperado, eu diria que sim, de todo o meu coração. Jamais esperei isto. Se foi gratificante, eu digo a vocês que foi demais, muito gratificante. Nós sabemos que o que importa é o trabalho consciente, honesto, verdadeiro, um trabalho com alma. Isto, nós temos certeza, eu e o Arines, de termos feito durante estes anos. Mas, quando acontece o reconhecimento da Câmara dos Vereadores, da Cidade que me adotou, da Cidade do Arines, pelo nosso trabalho, isto é muito gratificante. É demais de gratificante. Quando acontece, por unanimidade, todos os Vereadores reconhecerem é demais de gratificante. Quando acontece, num momento inclusive muito significativo para nós atores, quando acontece de sermos dois homenageados quando o prêmio foi proposto para uma pessoa recebê-lo, isto é demais de gratificante. O prêmio, nós temos certeza, não é só nosso. É de todo um grupo de pessoas que passou por momentos dificílimos e todos nós sabemos. Temos dois representantes bem pertinho de mim aqui e os que estão aí e que não citamos, também estão muito presentes na vida da gente. Se eu agradeço, é claro que eu agradeço. Só não agradeço de joelhos, porque vocês não iriam me ver falando. Eu agradeço demais ao meu filho Luciano, à Ismália, que está lá no fundo, com aqueles olhos lindos! Ao Vô Arines, que me adotou como filha. Agradeço demais à minha mãe, que eu também adotei, em Pelotas, e que viajou até aqui para me ver receber este prêmio. Então, vocês notem que sou uma pessoa privilegiada, tive pai e mãe que me fizeram nascer, e ganhei pai e mãe adotivos. Se eu tenho que agradecer aos Vereadores? Demais, agradeço a todos eles, tenho que agradecer muito, sempre, a todo o momento, e eles sabem as minhas formas de agradecimento, ao meu eterno companheiro Arines. Muito obrigada a vocês. (Palmas.)

Nós queríamos agora trazer a vocês o nosso agradecimento conjunto, e como vocês sabem o nosso trabalho é fundamentalmente de palco, com texto, de trazer personagens e mensagens de autores que viveram tempos como os nossos. Como o nosso trabalho tem essa característica, trazemos a vocês e convidamos a refletirem, através do texto de Bertold Brecht, “Aos que vão nascer”. (Lê.)

“Realmente eu vivo num tempo sombrio. Quem está rindo é só porque não recebeu ainda a notícia terrível.

Que tempo é este em que algumas conversas são um despropósito, pois implicam em silenciar sobre tantos crimes?

É verdade: ainda ganho o meu sustento. Porém acreditai-me: é puro acaso. Nada do que faço me dá direito a isso, de comer a fartar-me. Por acaso me poupam. (se minha sorte acaba, estou perdida)

Vai comendo e vai bebendo! Alegra-te com o que tens!

Mas como hei de comer e beber, se o que eu como é tirado de quem tem fome, e meu copo trás a água que falta a quem tem sede?

Contudo eu como e bebo.

Eu gostaria bem de ser um sábio. Nos velhos livros consta o que é sabedoria: manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve deixar correr sem medo.

Também passar sem violência, pagar o mal com o bem, os próprios desejos não realizar e sim esquecer, conta-se como sabedoria. Não posso nada disso: realmente eu vivo num tempo sombrio.

Nas cidades cheguei em tempo de desordem com a fome imperando. Junto aos homens cheguei em tempo de tumulto. E me rebelei com eles. Assim passou-se o tempo que sobre a terra me foi concedido.

As ruas do meu tempo iam dar no atoleiro, a falta denunciava-me ao dominador. Bem pouco podia eu, mas os mandões sem mim sentiam-se mais garantidos eu esperava.

Assim passou-se o tempo que sobre a terra me foi concedido.

Minguadas eram as forças. E a meta ficava a grande distância; claramente visível, conquanto para mim difícil de alcançar assim passou-se o tempo que sobre a terra me foi concedido.

Vós que vireis na crista da maré em que nos afogamos, pensai, quando falardes em nossas fraquezas, também no tempo sombrio a que escapastes.

Vínhamos nós então mudando de mandante mais do que de sapatos, em meio as lutas de classes, desesperados, enquanto apenas injustiça havia e revolta nenhuma.

E entretanto sabíamos: também o ódio à baixeza endurece as feições, também a raiva contra a injustiça torna mais rouca a voz. Ah, e nós, que pretendíamos preparar o terreno para a amizade, nem bons amigos podemos ser.

Mas vós, quando chegar a ocasião de ser o homem parceiro para um homem pensai em nós com simpatia.”

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Minhas senhoras e meus senhores, ao concluir esta Sessão, gostaria de dizer que poderia parecer quem sabe um ato falho, quando durante o pronunciamento que realizei em nome da minha Bancada deixei de citar o autor do Projeto, o Vereador Hermes Dutra. Mas, certamente, sabendo que estaria na Presidência dos trabalhos, eis que inclusive esta Presidência dos trabalhos foi reivindicada por mim ao Presidente Geraldo Brochado da Rocha, para que pudesse pessoalmente, falar e homenagear no exercício da Presidência, os dois amigos Arines e Izabel, sabia portanto que iria encerrar a Sessão e deixei para o final para em nome da Casa, muito especialmente em nome da Mesa Diretora desta Câmara Municipal, apresentar os cumprimentos ao Autor da Proposição, Ver. Hermes Dutra. Certamente todos nós que participamos da tramitação e da votação desse Projeto e hoje desta bela Sessão Solene, graças à presença dos homenageados, das senhoras e dos senhores, estamos muito satisfeitos e com o sentimento de mais uma missão cumprida. Hoje estamos encerrando o período do primeiro semestre da Casa. Durante boa parte da tarde discutimos alguns projetos e debatemos a nível das idéias aquilo que é melhor para a Cidade de Porto Alegre. Agora estamos concluindo uma Sessão Solene em que homenageamos dois representantes, o casal Arines e Izabel Ibias, dois representantes de um segmento social da nossa Cidade. Isto nos dá a entender que o sentimento de mais uma vez cumprir com a missão e obrigação da Casa, que é debater, discutir, mas também saber na hora e no momento exato homenagear aqueles que merecem ser homenageados pela Casa do Povo de Porto Alegre. Portanto, apresento os cumprimentos ao Ver. Hermes Dutra pela inteligente idéia de apresentar o Projeto que concedeu o Título “Qorpo Santo” a Arines e Izabel Ibias. Agradecemos a presença dos homenageados que nos trouxe enorme satisfação e a presença de todos aqui. A festa, com a presença de tantos amigos, teve um final feliz, ou seja, apesar do avançado da hora, parece que o Plenário acima de tudo está a sentir a amizade e o carinho que todos nós, indistintamente, dedicamos a Arines e Izabel Ibias. Ao finalizar agradeço especialmente a presença do Prof. Joaquim Felizardo, Secretário Municipal da Cultura, que neste ato representou o Sr. Prefeito Municipal Dr. Alceu Collares; ao Dr. Peter Schmidt, Diretor do Instituto Goethe; ao Dr. Francisco Andrade, Diretor da Associação Gaúcha de Dança; à Professora Olga Reverbel, Cidadã Emérita desta Cidade e professora dos Homenageados; aos Srs. Vereadores, às senhoras e aos senhores. Muito obrigado. Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h52min.)

 

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